24/05/2009

Tarantino diz que criou personagem sob medida para Brad Pitt

O diretor americano Quentin Tarantino, o maior reciclador do cinema de gênero, apresentou nesta quarta-feira na competição da 62ª edição do Festival de Cannes sua interpretação do que seria um filme de guerra. Mas Bastardos inglórios, o novo longa-metragem do autor de Pulp fiction – Tempo de violência (1994), ganhador da Palma de Ouro que o transformou em celebridade do circuito independente, promove também uma revisão do desfecho da Segunda Grande Guerra (1939-1945). Protagonizado por um elenco multinacional, que inclui americanos (Brad Pitt), canadenses (Mike Myers), franceses (Mélanie Laurent), chineses (Maggie Leung) e inúmeros alemães (Diane Kruger, Daniel Brühl), o filme acompanha um grupo de soldados judeus americanos em ação na França ocupada pelos nazistas. O bando acaba cruzando o caminho de uma jovem judia dona de um cinema em Paris que planeja usar a première de um filme de propaganda nazista para vingar a sorte de seu povo.

O grande desfecho da história é um banho de sangue durante a primeira projeção de Orgulho da nação, uma produção do ministério comandado por Joseph Goebbles, a qual comparecem todo o primeiro escalão do Terceiro Reich, inclusive Adolf Hitler (Martin Wuttke). Diferentemente da maioria das produções americanas ambientadas em outros territórios e culturas, em Bastardos inglórios os atores usam a sua língua nativa.

– As pessoas costumam me perguntar se o filme é um faz-de-conta, se representa a realização da judia (na qual o genocídio é vingado). Há, certamente, esse aspecto na história, porque meus personagens mudam o resultado da guerra. Mas, para mim, nada disso aconteceu, porque esses personagens não existiram na realidade. Mas, se tivessem existido, é bem provável, sim, que eles tivessem conseguido reverter o jogo – comentou o diretor, de 46 anos, ao abrir a coletiva de imprensa que se seguiu à primeira projeção do filme.

Um roteiro e cinco garrafas

Pitt, que trouxe a Cannes a mulher, a atriz Angelina Jolie, e os seis filhos do casal, aumentando ainda mais a carga de assédio de fãs na cidade, é o nome mais quente da produção, que será lançada nos principais territórios do planeta a partir de agosto – chega ao Brasil em outubro. Mas um dos melhores personagens da trama é o coronel Hans Landa, magnificamente interpretado pelo alemão Christoph Waltz. A especialidade do militar é caçar judeus, ou seja, detectá-los entre os “gentios”. Seu maior dom é distinguir sotaques das mais variadas línguas.

Tarantino reconhece a importância do personagem dentro da história que criou, cuja crueldade só não é maior do que sua eficiência. O problema foi encontrar um intérprete à altura das especificidades requeridas por Waltz.

– Eu me dei conta de que estava criando um personagem impressionante ainda numa fase muito inicial da escrita do roteiro. Uma das coisas mais sensacionais sobre Landa é que ele é um gênio da lingüística, um aspecto que não poderia ser minimizado durante o processo de escolha de elenco, que foi realmente difícil – contou Tarantino. – Comecei a procurar por atores na Alemanha, mas não conseguia encontrar exatamente o que procurava; um podia ser poético em uma língua, mas não em outra, e eu buscava um que pudesse sê-lo em todas elas.

O diretor e os produtores (entre eles Lawrence Bender, a cabeça por trás de quase todos os filmes de Tarantino) entrevistaram centenas de atores, antes de conhecer Waltz. Este só chegou para os testes quando a produção já estava à beira de ser cancelada em função do fracasso da missão de encontrar o rosto ideal para a montagem do personagem.

– Houve um momento em que pensei que não iria encontrá-lo. Disse para os meus produtores: se não conseguirmos achar um ator para Landa prefiro publicar o roteiro e fazer qualquer outra coisa – recordou Tarantino. – Para minha sorte, Lawrence ficou tranqüilo e sugeriu que nos concentrássemos nos testes para o personagem por uma semana inteira. Foi aí que Christoph apareceu, sentou diante da câmera e leu duas cenas para nós. Lembro-me de me virar para Lawrence e gritar: “Vamos fazer esse filme!”

Tarantino confessa que sente orgulho de todos os personagens que criou. Mesmo que eles sejam oficiais nazistas, capazes das maiores atrocidades contra a humanidade.

– Amo todos eles, sem distinção. Amo-os da perspectiva de um deus, porque fui eu quem os criou. E um deus admira a sua criação – disse o diretor que, desde o início do projeto, desejava vê-lo estreando em Cannes. – Sempre foi o meu objetivo. Não há lugar melhor para lançar um filme como este do que aqui. Dizem que Cannes é a Olimpíada do cinema, o Nirvana da sétima arte, o que não deixa de ser verdade. Mas o que há de mais maravilhoso sobre o festival é que, durante o período em que ele acontece, o que importa é o cinema, o que reina aqui é a paixão pelos filmes. A imprensa especializada do mundo inteiro está aqui. Faço filmes para todo o planeta e Cannes é o lugar que representa isso.

Aldo Raine, o tenente encarnado por Pitt, foi especialmente desenvolvido para o ator, o que é algo raro no processo de Tarantino.

– Não costumo criar personagens com atores específicos na cabeça. O mais importante para mim é o personagem. Mas sempre encontrava Brad pelos corredores da indústria e pensava comigo mesmo: “Um dia vou escrever um filme para esse sujeito”. Quando comecei a criar Aldo, percebi que aquele tipo era a cara dele. Comecei a ficar nervoso com a ideia de convidá-lo para o filme.

Um dia, Tarantino tomou coragem e fez uma visita a Pitt no verão (americano) passado. Com o roteiro de Bastardos inglórius entre as mãos.

– Passamos a noite inteira falando sobre filmes. Acordei na manhã seguinte e vi cinco garrafas vazias de vinho no chão. Cinco! Não sabia o que tinha acontecido – recordou o Pitt. – E, aparentemente, concordei em fazer o filme porque, seis semanas depois, eu estava usando um uniforme. Eu era Aldo Raine.




Créditos: Jornal do Brasil

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